Tem um ditado popular, bem antigo, que diz o seguinte: “Só o dono da casa sabe onde ficam as goteiras.”
Essa frase me caiu como uma chuva miúda no telhado antigo da alma. Tem um quê de sabedoria antiga, dessas que os mais velhos falam entre um café e outro, sem alarde, como quem solta verdades no ar e segue em frente.
Porque é isso mesmo, cada um conhece as infiltrações do seu próprio teto. Aquilo que parece sólido por fora, imponente talvez, pode esconder trincas finas que só se revelam quando o tempo fecha. E quem vê de fora, raramente imagina.
Tem gente que olha para a vida dos outros e julga*. Acha que tudo está em ordem, que a fachada brilhando é sinônimo de estrutura firme. Mas não sabe dos baldes colocados estrategicamente durante as tempestades emocionais, das madrugadas mal dormidas tentando conter o gotejar da angústia, da ansiedade, da dor que insiste em pingar bem no meio da sala.
A verdade é que todos, maiores ou menores, tem suas goteiras. Algumas são antigas, de infância talvez. Outras apareceram depois, com os tropeços, com as perdas, com os “quases” que não viraram. E, como ocupante da casa que sou, aprendi a conviver com elas. Tem dias em que me esqueço. Outros, me pego arrumando o que posso, remendando com esperança e silêncio.
Quem chega para uma visita não vê. Ajeito os móveis, escondo os baldes, abro as janelas para a luz parecer mais bonita. Porque nem sempre a gente quer mostrar o que vaza. Mas, no fundo, há um certo alívio quando alguém percebe e não se assusta. Quando diz: “Também tenho goteiras em casa.” E aí, sem julgamento, a gente troca conselhos de como tampar buracos e rir no meio da tempestade.
Cada um carrega suas infiltrações. E isso não é fraqueza. É só sinal de que vivemos. Que resistimos ao tempo, às pancadas da vida, e seguimos buscando manter o lar de pé.
No fim das contas, talvez o segredo não seja eliminar todas as goteiras. Mas aprender a escutá-las. Porque, às vezes, elas dizem mais sobre nós do que qualquer parede intacta.
* Julgar; por regência múltipla: formar conceito, emitir parecer, opinião sobre (alguém ou algo).